O sonho é uma experiência própria do ser humano estudado nas mais diversas épocas e diferentes culturas. Desde há antigüidade até os dias de hoje, muito tem se pesquisado sobre o mundo dos sonhos tanto dentro do âmbito religioso quanto no científico.
Podem-se encontrar relatos que revelam as crenças e a misticidade dos sonhos em livros religiosos como a Bíblia que possui mais de setenta passagens tratando do assunto, como estará citado a seguir, o Alcorão (livro sagrado dos maometanos) visto que grande parte de seus escritos foram revelados a Maomé em forma de sonho e até mesmo no Talmud (leitura rabínica) sendo que os sonhos aparecem como algo que precisa ser revelado, pois contém efeitos transmutadores (FROMM, 1951)
A Bíblia mostra que o sonho durante muito tempo foi uma forma de comunicação entre Deus e os homens e que através deles, muitos conteúdos sobre a vida futura eram revelados. O caráter premonitório dos sonhos aparece em várias passagens Bíblicas como esta: “E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio, e subiam ao rio sete vacas formosas e gordas de carne, e pastavam. E eis que subiam do rio após elas, outras sete vacas feias e magras de carne; e paravam junto às outras vacas no pasto. E as vacas feias e magras, comiam as sete vacas formosas e gordas. Então acordou o Faraó. Chamou o Faraó um garoto de nome José para que interpretasse seu sonho e assim foi feito. Disse José ao Faraó: O sonho do Faraó é o que Deus fará. As sete vacas formosas são sete anos de muita fartura que o Egito enfrentará e as sete vacas magras e feias são os sete anos de fome e miséria que se sucederá” (Bíblia Sagrada, 1969, p. 47, antigo testamento).
Na Idade Média, o sonho passou a ser encarado como portador de uma força cognitiva em relação aos fatores da realidade externa objetiva, especialmente o Futuro, o Além e as verdades do relacionamento do homem com o divino, que, de outra forma seriam inacessíveis (WOLFF, 1985).
Segundo a Dra. VON FRANZ em seu livro O Caminho dos Sonhos (1988), na virada do século, os pioneiros da Psicologia não descobriram a importância dos sonhos. Eles a redescobriram. Muitas civilizações antigas levavam extremamente a sério seus sonhos. Por ironia, muita gente que hoje rejeita os sonhos como algo sem sentido, sem saber, aceita e segue valores espirituais, crenças e tradições que se originam diretamente dos sonhos de indivíduos que viveram há milhares de anos. Durante toda a história religiosa da cultura judeu-cristã os sonhos tiveram um papel central na determinação do destino da humanidade.
Existem até mesmo autobiografias importantes centradas em sonhos: a primeira, de um médico de Bagdá, Ibn AL-Banña de 1068 e é composta de vinte e três sonhos e suas interpretações, a outra, é do historiador damasceno ABN Shama de 1260. Já se tratando do mundo científico, encontra-se Freud que em 1900 lança uma de suas principais obras “ A interpretação dos sonhos” em que descreve a forma como a psique se protege e satisfaz-se durante o sonho. Freud indica que do ponto de vista biológico, a função do sonho é permitir que o sono não seja perturbado. Sonhar é uma forma de canalizar desejos não realizados através da consciência sem despertar o corpo. Freud considera o sonho como um guardião do sono, ao permitir a satisfação parcial dos desejos inconscientes reprimidos. Seria uma forma de manifestação dos impulsos que estão sob pressão da resistência durante a vigília e que podem liberar-se durante o relaxamento do sono. A lembrança dos sonhos não é apenas fragmentária, mas decididamente imprecisa e falsificada e, muitas vezes, ao despertar, as imagens são fracas e pouco inteligíveis. O esquecimento dos sonhos está a serviço da resistência. Parte da dificuldade de fornecer uma descrição dos sonhos se deve ao fato de se traduzir as imagens em palavras ( WOLFF, 1985).