Entendendo a Perversão
Freud não se limita a definir a como a negação do instinto, pois, salienta que a predisposição à perversão é característica da sexualidade humana. Nesse sentido, afirma que toda criança é estruturalmente perversa. O perverso nesse sentido seria aquele que não abre mão do poder. É no momento da conscientização de que existe uma “falta (ou seja, não é possível exercer o poder sobre tudo ou todos), que o indivíduo tenta substituir está necessidade de dominar propondo a si mesmo ser o objeto que preenche esta falta (que exerce o poder).
Lacan afirma que a perversão surge como uma defesa contra a angústia de ser despojado do poder, quando a criança se coloca como objeto que preenche a falta do Outro (este outro pode ser sua mãe ou quem desempenha o papel cuidador, nutridor).
A gênese da perversão, nesse sentido, está vinculada ao complexo de castração. O perverso se faz objeto a serviço do prazer do Outro. Ele, contrariamente ao neurótico não se vitima e nem se anula frente ás exigências da vida; ao contrário, se torna o instrumento de ação e punição, torna-se o vingador.
Ao perceber que a mãe fragilizada, por exemplo, se anula diante da vida, do marido, da sociedade, dos seus desejos e sonhos o perverso se torna o instrumento contestador, revelador, expositor da submissão alheia e faz isso de forma conflituosa, ameaçadora e transgressora. Assim, ao mesmo tempo em que recolher a impotência do seu cuidador se torna vingador em defesa dele (a este duplo e simultâneo sentimento, Freud irá chamar de “renegação ou verleugnung”). Valendo-se de um comportamento tirânico, busca triunfar sobre as situações ameaçadoras que impede o Outro de ser quem realmente é.
Deste modo, nasce no perverso à necessidade do “fetiche” como um mecanismo de defesa que atenua a angústia (de castração). O fetiche vem tomar lugar do poder (do falo) perdido. Quando o perverso tem que se deparar com a privação materna, ele elege um elemento imaginário, o fetiche, que vem a ocupar ou substituir o poder perdido pela mãe. Simbolicamente, se o fetiche está ali é porque a mãe não perdeu seu lugar, seu poder, sua individualidade. Por isso, o fetiche adquire um alto grau de valorização para o perverso já que vai servir como proteção contra o horror à ameaça da perda e ao mesmo tempo, sustentar a ilusão do poder. No entanto, este é um equilíbrio frágil que pode se partir a qualquer momento produzindo graves sintomas, pois a, solução perversa revela-se também um falso triunfo sobre a perda do poder e sobre o pai que supostamente é responsabilizado pela submissão materna. Assim, o perverso não faz mais do que tentar enfraquecer e minimizar a importância de ambos em sua vida. È como se disse: “nesta disputa entre vocês, eu consigo sobreviver sozinho”.
O perverso vai estar condenado a provar que pode triunfar e humilhar seu pai (que na verdade se revela um pai omisso e distante). A erotização é, portanto, uma tentativa desesperada de triunfar para aplacar a angústia da suposta ameaça que o pai representa à mãe desprotegida, por isso, o perverso è levado a fantasiar suas vivências. A compulsão da sexualidade perversa trata-se de uma encenação que possibilita o controle e erotização das relações interpessoais. Freud afirma que é na transgressão dessas crianças que certas vivências, sobre as quais elas não têm domínio, podem ser elaboradas e superadas. Nestas fantasias infantis, a encenação é movida pelo prazer e na atitude e sexualidade perversas, pela necessidade.